segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Uma Breve Introdução ao Estudo da Crítica Textual do Texto Bíblico.

 




Data publicação 14/12/2020.

Uma Breve Introdução ao Estudo da Crítica Textual do Texto Bíblico.

Pastor Washington Roberto Nascimento.

A crítica textual bíblica é muito importante, mas tem sido mal compreendida. Uma das razões é porque o termo crítico tem popularmente uma conotação negativa. Porém, a palavra – crítica - no estudo dos textos e em especial da Palavra de Deus, tem o sentido de separar, avaliar os diferentes manuscritos segundo alguns critérios acadêmicos.

Por causa da carga negativa que a palavra “crítica” traz, alguns preferem falar de manuscritologia bíblica em vez de crítica textual da Bíblia ou Baixa Crítica.  

Tal estudo crítico do texto bíblico requer uma análise equilibrada e decisões inteligentes, racionais, sensatas das questões, dos problemas na reconstrução, obtenção, do texto bíblico original, o melhor texto possível, o texto mais correto. Este é o propósito do estudo da crítica textual da Bíblia.

Na verdade, a crítica textual não é restrita aos textos bíblicos, mas se aplica aos textos da literatura antiga em geral: religião, filosofia, história, arte etc.

Há posições radicais e equivocadas quando o assunto diz respeito à crítica textual da Bíblia

Há quem sustente que não há necessidade de qualquer crítica textual. Eles argumentam que Deus preservou Sua Palavra intacta por meio de certos manuscritos gregos e hebraicos. Esses manuscritos devem ser a base de todas as traduções feitas em outro idioma. Nenhum outro manuscrito deve ser consultado, exceto esses certos que foram providencialmente preservados.

Outros dizem que não há esperança de construir o texto bíblico original ou melhorar o texto bíblico que temos com o estudo da crítica textual. Argumentam que o melhor que podemos fazer é recuperar os últimos manuscritos dos livros bíblicos que foram escritos por outros que não aqueles que escreveram o texto bíblico original.

No entanto, cremos que a crítica textual deve ser praticada nos livros bíblicos porque não há um manuscrito, ou grupo de manuscritos, que preserva perfeitamente a leitura original.

Na verdade, nós não temos os manuscritos dos livros bíblicos originais. Eles foram perdidos. Os manuscritos eram em papiro e/ou pergaminho. O papiro tem a ver com uma planta cujos talos serviam para escrever. O pergaminho tem a ver com a pele de animais como o cordeiro, que servia para escrever.

Antes do século XV, todos os livros eram produzidos manualmente. Os documentos manuscritos são chamados de manuscritos (mss abreviado). Na verdade, a palavra “manuscrito” vem da palavra latina que significa: manu – mãos, mais scriptus – escrever - “algo que foi escrito à mão”. As únicas coisas que sobreviveram são cópias manuscritas de obras antigas. Quando escrito pela mão do autor denomina-se manuscrito autógrafo, os quais são inexistentes quando se trata dos livros da Bíblia, bem como dos autores da antiguidade gregos, romanos etc.

O manuscrito é avaliado em termos de idade, tipo e localização. Quando manuscritos de tempos, lugares, tipos e até mesmo línguas diferentes registram as mesmas coisas em termos essenciais com apenas erros de ortografia, tais documentos ganham grande peso em termos de credibilidade. Há manuscritos em hebraico, grego, latim, cóptico, aramaico, siríaco etc, de diferentes lugares tais como: Monte Sinai, Alexandria, Israel, onze cavernas em Qumran, às margens do Mar Morto, com mais de 930 fragmentos de manuscritos, etc. 

O manuscrito é definido como tal antes da invenção da prensa por Johannes Gutenberg no século XV – por volta de 1439. Ele foi o responsável pela invenção da impressa que permitiu a publicação de várias obras, ideias religiosas, científicas, econômicas etc. Sua relevância para o êxito da Reforma Protestante e da Revolução Científica é inquestionável. Gutenberg é considerado o pai da invenção mais importante do segundo milênio depois de Cristo.

Vejamos alguma coisa sobre o texto do Antigo Testamento.

A grande maioria do Antigo Testamento foi escrita originalmente em hebraico. Algumas partes foram escritas em aramaico, uma língua semelhante ao hebraico. As seções aramaicas do Antigo Testamento são encontradas em Daniel 2:4-7:28, Esdras 4:8-6:18; 7:12-26; e um versículo em Jeremias 10:11. O restante foi escrito na língua hebraica.

O hebraico bíblico também é conhecido como “hebraico clássico”. É interessante notar que o termo “hebraico” não é encontrado no Antigo Testamento para descrever a língua que era falada pelo povo de Israel. Em vez disso, temos outras designações. Isaías a chama de linguagem de Canaã. Nós lemos:

“Naquele dia, cinco cidades na terra do Egito falarão a língua de Canaã e jurarão lealdade ao Senhor dos Exércitos. Uma das cidades será chamada de Cidade do Sol”  (Is. 19:18).

É chamada de “a língua de Judá” no livro de Neemias. A Escritura diz:

“Metade de seus filhos falava a língua de Asdode ou a língua de um dos outros povos, e não sabia falar a língua de Judá” (Ne. 13:24).

Assim sendo, o Hebraico ou a língua de Canaã ou a língua de Judá é a linguagem que Deus escolheu para revelar Sua Palavra à humanidade antes da vinda de Jesus Cristo, o tão esperado e prometido Messias, à terra.

Não temos como negar a necessidade do estudo da crítica textual do Antigo Testamento.

Os livros do Antigo Testamento foram escritos aproximadamente a partir de 1400 a.C. a 400 a.C. Os originais autógrafos dos livros escritos há tanto tempo já desapareceram há muito tempo. A fim de reconstruir o que o texto original do Antigo Testamento temos que aplicar os princípios da crítica textual. Não temos outra escolha.

Portanto, a crítica textual para o Antigo Testamento é necessária por várias razões:

O primeiro livro do Antigo Testamento foi escrito há cerca de 3.400 anos e o último há cerca de 2.400 anos. Portanto, a escrita do Antigo Testamento abrangeu aproximadamente 1.000 anos.

Os originais de cada livro nós não temos mais e as cópias que possuímos diferem em alguns aspectos. Não existem dois manuscritos exatamente iguais. Portanto, o crítico textual deve fazer seu trabalho para reconstruir o texto.

A situação do texto bíblico do Novo Testamento não é melhor que a do Antigo Testamento. Temos necessidade da crítica textual do Novo Testamento tanto quanto do Antigo Testamento para a reconstrução do texto bíblico.

No primeiro século, o grego era a língua internacional. Os livros do Novo Testamento foram originalmente escritos no grego comum da época, chamado koine. Eles foram compostos de aproximadamente 50 a 90 d.C.

Hoje, não possuímos os autógrafos (originais) dos vários livros do Novo Testamento. Como acontece com o Antigo Testamento, dependemos de cópias e cópias de cópias para reconstruir o texto. Novamente, devemos aplicar a ciência da crítica textual ao Novo Testamento para descobrir a redação original do texto.

Portanto, de uma maneira resumida, podemos dizer que a crítica textual do Novo Testamento também é necessária por várias razões básicas, entre elas temos essas:

Primeiro: Não possuímos nenhum dos escritos originais do Novo Testamento. Como no Antigo Testamento, dependemos de cópias para reconstruir o texto original ou para melhor a qualidade do texto de manuscritos que temos.

Segundo: As cópias dos manuscritos do Novo Testamento que possuímos diferem em alguns aspectos umas das outras por causa de erros daqueles que produziram a cópia. Tais erros se infiltraram no texto e se assim se firmaram ao longo dos anos. Como acontece com o Antigo Testamento, não existem dois manuscritos exatamente iguais. Embora as diferenças sejam principalmente acidentais, existem diferenças entre os manuscritos.

Terceiro: Há um número assustador de manuscritos bíblicos. No caso do Novo Testamento, há muito material para avaliar. Só manuscritos gregos do Novo Testamento nós temos cerca de 6 mil. Além disso, precisamos dizer que o Novo Testamento foi traduzido desde muito cedo para várias línguas entre elas o latim. Há cerca de 10 mil manuscritos em latim por causa do crescimento da Igreja de Cristo nas regiões onde o latim era a língua dominante.

Há, também, manuscritos do Novo Testamento em línguas antigas tais como: aramaico, árabe, siríaco, cóptico, que é de uma população cristã egípcia do Monte Sinai, gótico, etc. Nessas outras línguas há cerca de 10 mil manuscritos

Portanto, há milhares de variações textuais, mas isso longe de ser contra a autenticidade e verdade, fidelidade do texto, é um testemunho a favor.

Neste debate, é importante esclarecer o sentido de uma variação textual. O que isso significa? Quando falamos sobre variação textual o que se quer dizer é o seguinte:

É uma palavra que foi escrita com alguma letra diferente.

Ou uma palavra que foi escrita faltando alguma letra.

Ou uma palavra com alguma letra a mais.

Qualquer um desses “erros” acima mencionados é contado como uma variação textual. E, um dos erros mais comuns diz respeito a letra grega: N (pronuncia: nú ou ni – letra maiúscula) ν (pronuncia: nú ou ni – letra minúscula) que é usada no final de algumas palavras que antecedem palavras que começam com vogal, mas que a rigor não afeta em coisa alguma o significado da palavra, frase ou texto. Essa letra é conhecida como o ( ν = nú ou ni )  n móvel.

Para entender o número de variações textuais precisamos considerar o seguinte: O Novo Testamento tem cerca de 140 mil palavras. (ou em termos exatos: 138 mil e 162 palavras).

Há cerca de 400 mil variações no Novo Testamento. Para cada palavra do Novo Testamento há cerca de 2 variações e meia. Quase cem por cento dessas variações textuais não alteram coisa alguma na compreensão do texto. Poucos são os textos com dificuldade maior e mesmo assim, tais textos, não comprometem o entendimento geral dos ensinos fundamentais da Bíblia, pois caso eles fossem retirados da Bíblia as doutrinas cristãs permaneceriam intactas em termos essencias. Entre esses textos, temos, por exemplo, o Evangelho de Marcos 16:9-20; o Evangelho de João5:4; 7:53-8:11 e Apocalipse 13:18, onde o número da besta em mais de um dos manuscritos é 616 e não 666 (veja: Códex Vaticanus e Códex Sinaiticus séc. IV d. C, Papirus 115 séc. III d. C, entre outros documentos). Esses textos acima mencionados não aparecem em alguns manuscritos de grande credibilidade, embora apareçam em muito outros manuscritos.

Alguém poderia perguntar a razão de tantas variações textuais. A resposta é a seguinte: Há muitas variações textuais porque há muitos manuscritos. Se tivéssemos apenas um manuscrito, não teríamos nenhuma variação.

Para muitos escritores clássicos da Antiga Grécia e da Antiga Roma, há escritores que escreveram em grego e latim, alguns têm apenas um manuscrito de suas obras e outros menos de vinte cópias. Por isso, nas variações são pequenas e em caso de apenas uma cópia de manuscritos não há variação alguma, pois o que se tem é só um manuscrito. Há diferença entre o número de cópias de manuscritos dos escritores da antiguidade gregos e romanos, com o número de manuscritos bíblicos e em especial do Novo Testamento é assustadora, gigantesca.  

Por exemplo, vamos apresentar alguns escritores famosos da antiguidade e quando e uma cópia de seus manuscritos foi encontrada para que possamos comparar com as cópias dos manuscritos bíblicos:

Gaius Plinius Secundus (23 -79 d. C), chamado Plínio, o Velho, que viveu no mesmo tempo de Jesus Cristo e seus apóstolos e/ou escritores do Novo Testamento, foi um autor romano, naturalista e filósofo natural, comandante naval e militar do início do Império Romano e amigo do imperador Vespasiano. Ele escreveu a enciclopédica Naturalis Historia (História Natural), que se tornou um modelo editorial para enciclopédias. Ele passou a maior parte de seu tempo livre estudando, escrevendo e investigando fenômenos naturais e geográficos. Só depois de sete séculos encontram um único manuscrito sobre sua obra. Caso isso tivesse ocorrido com os escritos bíblicos, eles teriam sido totalmente desprezados e viveriam eternamente sob suspeitas.

Plutarco (em grego clássico: Πλούταρχος) ou Lúcio Méstrio Plutarco (em latim: Lucius Mestrius Plutarchus - em grego, Λούκιος Μέστριος Πλούταρχος – 46-120 d. C), foi um historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego, conhecido principalmente por suas obras Vidas Paralelas e Morália, que viveu, portanto, no mesmo tempo dos escritores do Novo Testamento, teve uma cópia de manuscrito de sua obra encontrada apenas oito séculos mais tarde.

Flávio Josefo, um autor judeu do primeiro século (37-100 d. C), que nasceu em Jerusalém, muito importante e muito citado como autoridade na história dos judeus, que inclusive faz citações a Jesus, ao seu irmão Tiago e ao apóstolo João. Pois, só tivemos uma cópia de seu manuscrito depois de oito séculos.

Políbio (Grego: Πολύβιος, Polýbios; c. 200 - c. 118 a. C) foi um historiador grego do período helenístico conhecido por sua obra: As Histórias, que cobriu o período de 264–146 a.C., em detalhes. A obra descreve a ascensão da República Romana ao status de domínio no antigo mundo mediterrâneo. Inclui o relato de uma testemunha ocular sobre o Saque de Cartago e Corinto em 146 a.C., e a anexação romana da Grécia continental após a Guerra Aquéia ou Acaia.

Políbio é importante para sua análise da constituição mista ou a separação de poderes no governo, que teve influência em O Espírito das Leis do escritor francês Montesquieu (1748) e nos redatores da Constituição dos Estados Unidos. Ele também foi conhecido por testemunhar algunss eventos que registrou.

O principal especialista em Políbio foi F. W. Walbank (1909–2008), que por 50 anos publicou estudos relacionados a ele, incluindo um longo comentário de suas Histórias e uma biografia. Uma cópia de seu manuscrito só foi encontrada doze séculos mais tarde.

 Heródoto (em grego, Ἡρόδοτος) foi um geógrafo e historiador grego, continuador de Hecateu de Mileto, nascido no século V a.C. Foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos princípios do século V a.C., conhecida simplesmente como As histórias de Heródoto. Esta obra foi reconhecida como uma nova forma de literatura pouco depois de ser publicada.

Antes de Heródoto, tinham existido crónicas e épicos, e também estes haviam preservado o conhecimento do passado. Mas Heródoto foi o primeiro não só a gravar o passado, mas também a considerá-lo um problema filosófico ou um projeto de pesquisa que podia revelar conhecimento do comportamento humano. Sua obra deu-lhe o título de "pai da história" e a palavra que utilizou para o conseguir, historie, que previamente tinha significado simplesmente "pesquisa", tomou a conotação atual de "história". Só depois de quinze séculos cópias de seus manuscritos foram encontradas.

Xenofonte (em grego clássico:  Ξενοφῶν; ca. 430-450 a.C.) foi soldado grego e discípulo de Sócrates. Ele foi autor de inúmeros tratados práticos sobre assuntos que vão desde equitação a tributação, ficou conhecido pelos seus escritos sobre a história do seu próprio tempo e pelos seus discursos do grande filósofo Sócrates.  Tivemos que esperar dezoito séculos para encontramos cópias de suas obras.

Se o Novo Testamento tivesse seus manuscritos encontrados em tempos tão posteriores como os casos mencionados acima, isto é, caso tivéssemos encontrado cópias dos manuscritos do Novo Testamento apenas vários séculos mais tarde e cuja produção, a confecção, o registro dos mesmos fosse igualmente bem posterior, creio que poucas pessoas dariam credibilidade aos documentos encontrados. Contudo, quando vemos os números de cópias dos manuscritos do Novo Testamento em particular e da Bíblia como um todo, percebemos, com base em fatos, que temos mais de mil por cento de razão para crermos na autenticidade e verdade do texto bíblico em comparação com todos esses escritores da antiguidade e que são considerados fontes fidedignas pelos estudiosos seculares. Se esses nos dizem que precisamos ser céticos com respeito aquilo que os escritores do Novo Testamento nos legaram, então, precisamos responder que precisamos também ser incrédulos quanto a existência e ensino de tudo aquilo que os escritores clássicos da Antiguidade ensinaram e escreveram. Informações sobre Sócrates; Alexandre – o grande; Júlio César, etc, precisam e devem estar sob suspeitas. Pois as informações sobres essas personagens vieram bem mais tarde e em muito menos material, manuscritos, que o Novo Testamento em particular e a Bíblia como um todo.

Há, por exemplo, um manuscrito do Novo Testamento conhecido como P52. Trata-se de um papiro da Biblioteca de Rylands ou Papiro Biblioteca Rylands (Papyrus Ryl. Gr. 457), conhecido como o "fragmento de São João", é um fragmento de papiro exposto na Biblioteca de John Rylands, Manchester, Reino Unido, texto escrito em grego antigo, o papiro contém parte do capítulo 18 do Evangelho Segundo João, estando, na frente, os versículos 31-33 e, no verso, os versículos 37 e 38.

Alguns historiadores, paleográficos, filólogos, afirmam que o papiro com o texto do Evangelho de João (18:31-33,37-38), teria sido escrito entre o período de 100 a 125 d. C.

Esse manuscrito foi amplamente aceito como o texto mais antigo de um evangelho canônico, tornando-se assim, o primeiro documento que se refere à pessoa de Jesus. Esse manuscrito que conta parte da história de Jesus Cristo, remonta a poucos anos após a morte de seu apóstolo João. Essa evidência dá testemunho eloquente da existência histórica da pessoa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Além desse manuscrito, P52, há dezenas de outros que datam do segundo século d. C.

O papiro 66, que se encontra na Suíça, na Biblioteca Bodmeriana, por exemplo, contém o Evangelho de João quase completo, e fala da divindade de Jesus, data de 166 d. C. E há outras dezenas de manuscritos, também antigos,  que afirmam a mesma coisa sobre a pessoa de Jesus e a Igreja de Cristo – P75 (data de 175 d. C), que também está na Suíça, é um exemplo de manuscrito que tem textos do Evangelho de Lucas e João incluindo, é claro, o capítulo 1 - No princípio era o verbo e o verbo estava com Deus e o verbo era Deus - Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ Λόγος, καὶ ὁ Λόγος ἦν πρὸς τὸν Θεόν, καὶ Θεὸς ἦν ὁ Λόγος. E, o manuscrito P46, que está na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, tem textos das Cartas do Apóstolo Paulo e da Carta aos Hebreus, e data do segundo século.

 A Bíblia conhecida como King James, que data sua primeira edição de 1611, foi traduzida com base em manuscritos gregos que datam do século XI.

A grande produção de manuscritos do Novo Testamento aponta para o caráter sobrenatural do texto bíblico. Os crentes primitivos, ao ouvirem ou lerem os textos bíblicos, ficavam tocados de tal maneira com o que ouviam e liam, que não resistiram ao ímpeto de copiarem o texto sagrado para compartilhá-lo com outros crentes. Deus estava presente nesse processo, o Seu Espírito operava e fazia Sua Igreja viva, ao invés de morta; dinâmica, ao invés de estática; em ação, em movimento.

Há um fato muito importante sobre as variações textuais das passagens bíblicas. Os tipos de variações textuais não são sobre temas importantes, cruciais da fé cristã, tais como: o nascimento de Jesus por meio da virgem Maria; a morte de Jesus na Cruz; a Ressurreição de Jesus; a vida sem pecado de Jesus; a divindade de Jesus; a pessoa do Espírito Santo. Todos os manuscritos registram esses textos. Não temos manuscritos que omitem tais textos importantes para a fé cristã ou que fazem o seu registro negando ou distorcendo.

Assim sendo, todos os ensinos teológicos importantes para a Igreja de Jesus Cristo não se encontram sob suspeitas. Não há nenhuma variação textual que contradiga ou negue tais ensinos ou doutrinas cristãs. Nossa fé, portanto, tem como base fatos, documentos, que foram preservados pelo Senhor ao longo da história.

Além disso, é importante que se diga, os pais da Igreja, que viveram no segundo e terceiro e quinto século depois de Cristo, fizeram várias citações do texto bíblico que chegam a um número superior de um milhão. Eles foram teólogos que defenderam a fé cristã dos ataques dos incrédulos ou hereges e suas obras ficaram conhecidas como teologia patrística. Entre eles temos: Clemente de Roma (Séc. I); Inácio de Antioquia da Síria (Séc. I); Policarpo de Esmirna (Séc. II); Irineu de Lyon (Séc. II); Clemente de Alexandria (Séc. II); Orígenes de Alexandria (Séc. III); Eusébio de Cesareia (Séc. III e IV); Atanásio de Alexandria (Séc. IV); Agostinho de Hipona (Séc. IVe V); Cirilo de Alexandria (Séc. V) etc.  Suas citações dariam para reconstruir em termos essenciais o Novo Testamento mais do que uma vez.

Antes que qualquer tipo de interpretação bíblica possa começar, devemos primeiro determinar o que o texto disse originalmente. Portanto, a crítica textual da Escritura é uma necessidade absoluta para a determinação da credibilidade do texto bíblico e para a sua consequente e oportuna hermenêutica. Ela contribui para a credibilidade da Palavra de Deus para a provar sua inerrância e para o fortalecimento de nossa fé. Visto que as Escrituras são o próprio alicerce da fé cristã, certamente não pode haver uma tarefa mais importante do que usar os dons de conhecimento e materiais - na forma de milhares de manuscritos - para descobrir mais uma vez as próprias palavras que nosso Senhor inspirou os autores da Escritura para escrever.

Há algumas observações sobre a importância da crítica textual que precisamos deixar bem esclarecidas: A crítica textual não se limita à Bíblia, como já falamos antes. Ela serve para qualquer texto de qualquer autor. Não existem originais de qualquer um dos escritores clássicos como Platão, Aristóteles ou Eurípides. Da mesma forma, nenhum dos escritos originais dos primeiros cristãos existe, ou mesmo as obras originais de William Shakespeare. Portanto, a crítica textual é uma disciplina que é usada para qualquer trabalho antigo ou moderno onde os originais desapareceram.

As regras pelas quais o estudante da crítica textual busca descobrir o texto original de um documento são as mesmas para a Bíblia e para documentos não bíblicos. Não existem regras especiais que precisam ser aplicadas ao tentar reconstruir o texto das Escrituras. O texto da Bíblia é avaliado e reconstruído da mesma maneira que avaliaríamos os escritos do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (Séc. XVI d. C) ou do filósofo grego Platão (Séc. V a. C).

Claro, isso não significa que a Bíblia e Shakespeare tenham o mesmo valor. A Bíblia é, para nós, crentes em Cristo Jesus, única no fato de que é a revelação de Deus para a raça humana. No entanto, para reconstruir o texto de cada documento, os mesmos princípios devem ser aplicados.

A crítica textual é praticada por crentes e não crentes. Embora eles possam discordar quanto à natureza da Bíblia, não há discordância quando se trata do assunto da crítica textual. Ambos usam o mesmo texto Antigo Testamento hebraico, grego, latim, aramaico, etc; e o mesmo texto do Novo Testamento grego, latim, cóptico etc. Ambos examinam os mesmos manuscritos e as mesmas leituras variantes encontradas nos manuscritos. Ao examinar o texto, as mesmas regras são aplicadas por crentes e não crentes e as mesmas conclusões são tiradas. Portanto, a prática da crítica textual não é um campo de batalha entre crentes e descrentes.

A prática da crítica textual não é fácil. É importante deixar isso bem claro. Deve-se tentar reconstruir um documento trabalhando com paciência, perseverança, método de anotação, análise com as evidências existentes. Às vezes há uma abundância de evidências para ajudar a reconstruir um texto, enquanto outras vezes há poucas evidências. Seja qual for o caso, reconstruir um texto antigo é um trabalho árduo, uma arte e uma ciência. É uma ciência porque existem certas regras a serem seguidas, mas é uma arte porque essas regras não podem ser aplicadas de forma mecânica, é preciso sensibilidade.

O presente texto da Bíblia que temos em nossas mãos é uma representação precisa do original, esta é uma conclusão que existe com base no trabalho da crítica textual a partir dos milhares de manuscritos que temos.

Algo precisa ser dito sobre aonde as evidências da crítica textual dos manuscritos bíblicos nos levam. Todos os fatos presentes relacionados ao estudo da crítica textual, provam que o texto da Bíblia nos foi transmitido de maneira muito precisa. Podemos ter certeza de que a Bíblia que lemos hoje representa o que foi originalmente escrito. Consequentemente, traduções competentes das Escrituras são a Palavra de Deus autorizada. Podemos lê-las com confiança e contar com as promessas contidas em suas páginas.

O grande estudioso textual do século passado, Sir Frederic Kenyon, colocou desta forma:

“O cristão pode tomar toda a Bíblia em suas mãos e dizer sem medo ou hesitação que contém nela a verdadeira Palavra de Deus, transmitida sem perdas essenciais de geração em geração ao longo dos séculos” (Sir Frederic Kenyon, Our Bible and the Ancient Manuscripts, New York, Harper and Row, 1958, p. 55).

Mesmo se adotássemos todas as leituras alternativas possíveis encontradas nos manuscritos hebraicos e gregos, tirando aquilo que se encontra sob suspeita, o texto bíblico ainda seria basicamente o mesmo! Isto é, a história de Deus, de seu povo, de sua Igreja na Bíblia seria essencialmente a mesma, e o leitor receberia a mesma mensagem central de quem é Deus e o que Ele deseja de nós, de Sua criação.

Portanto, quando colocamos a Bíblia por meio da arte e da ciência da crítica textual, ela demonstra que a Palavra de Deus vem em alto e bom som

Em síntese, podemos dizer o seguinte: Quando o primeiro livro da Bíblia foi escrito, o texto começou a ser transmitido em várias cópias. O texto continuou a ser transmitido por cópias manuscritas até a invenção da impressão no século XV. A crítica textual é uma ciência que tenta estabelecer o texto correto de um documento. É aplicado a obras seculares e também sagradas. As regras para sua prática são as mesmas, quer o texto seja sagrado ou secular. O crítico textual trabalha com os materiais disponíveis e retrocede para estabelecer, da melhor maneira possível, como o texto foi originalmente lido.

A crítica textual é necessária em ambos os testamentos. Os originais de cada livro do Antigo Testamento não existem mais. As cópias que ainda existem têm diferentes leituras no texto. A crítica textual também é necessária para o Novo Testamento. Os originais não existem mais, os manuscritos existentes diferem uns dos outros e há uma abundância de material a ser considerado.

Portanto, para recuperar a redação original da Escritura, a ciência da crítica textual deve ser aplicada.

Também observamos que a crítica textual não se limita à Bíblia - todo documento sem um original deve ser submetido à crítica textual. As mesmas regras se aplicam a crentes e descrentes que praticam esta disciplina.

A crítica textual é uma ciência e uma arte. Tem regras, mas não devem ser aplicadas mecanicamente. Por fim, é importante enfatizar que o texto que temos hoje é uma representação precisa do original e nisso vemos a Mãos do Senhor e o louvamos por isso.

Sites

Textos de estudos bíblicos e devocionais do Pastor Washington Roberto Nascimento além de áudios e vídeos - https://www.igrejabatistasiaospa.com.br/index.php

Canal no youtube do Pastor Washington Roberto Nascimento –

https://www.youtube.com/channel/UCmhBWUfpD1-Arj106lou-KQ

Sites para consulta de centenas de manuscritos unciais (com letras maiúsculas) e com letras minúsculas.

http://www.kchanson.com/papyri.html#GC

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_papiros_do_Novo_Testamento

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_papiros_do_Novo_Testamento

https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Hebrew_Bible_manuscripts#:~:text=Codex%20Leningradensis%20is%20the%20oldest,survived%20in%20a%20fragmentary%20condition.

https://biblearchaeologyreport.com/2019/02/06/the-three-oldest-biblical-texts/

http://www.csntm.org/Manuscript

http://www.christianlibrary.org/authors/Jeffrey_W_Hamilton/LVarticles/AuthenticityOfMark16920.html


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