TIPOS DE MANUSCRITOS.
A primeira questão a ser examinada é o que se entende por manuscrito. Um manuscrito é simplesmente uma cópia manuscrita do Novo Testamento datada antes da invenção da impressão (meados de 1400). Essas podem ser cópias de todo o Novo Testamento (NT), porções dele (como apenas os Evangelhos ou apenas as Epístolas de Paulo) ou simplesmente fragmentos de um livro do NT. Eles são de vários tipos:
PAPIROS.
Os primeiros manuscritos são conhecidos como papiro. Eles são chamados assim porque foram escritos em papiros. Esse material era produzido da planta de papiro. Tiras da planta focam colocadas ao lado e por cima de outra, umedecidas e pressionadas juntas e cortadas no tamanho desejado. Geralmente, essas folhas eram organizadas em pergaminhos. Mas os primeiros cristãos, ao invés de organizarem como pergaminhos, os dobraram no centro e os uniram ao que é conhecido como “códice”. Até o momento, 88 papiros foram catalogados. Por sua vez, esses datam do segundo ao oitavo século. 41 foram do segundo ao quarto século. O primeiro é um fragmento do Evangelho de João e é datado por volta de 125 d.C. O fragmento contém João 18.31–33, 37, 38. Agora é exibido na Biblioteca John Rylands em Manchester. Os papiros são catalogados por um “p” de aparência elegante e um número sobrescrito. O fragmento da Biblioteca John Rylands é o número 52. No quarto século, o pergaminho começou a ser usado. Eles foram feitos de pele de animal. Os cabelos e a carne eram removidos e a pele aparada, polida e amaciada com cal e pedra-pomes. O pergaminho foi utilizado até o papel se tornar popular no século XII.
UNCIAIS.
Os unciais são o primeiro tipo de manuscrito escritos em pergaminhos. Eles são chamados assim por causa que o texto inteiro era escrito em gregas maiúsculas. Cerca de 290 unciais foram identificados. Eles datam do quarto ao décimo quinto século. Os dois primeiros são o “Codex Sinaiticus” e o “Codex Vaticanus”. Eles recebem o nome de mosteiros no Monte Sinai e no Vaticano, respectivamente. Ambos datam do começo do quarto século. Essas também são as primeiras cópias completas conhecidas da Bíblia. Elas também são conhecidas como, “Aleph” (a primeira letra do alfabeto hebraico) e “Beta” (a segunda letra do alfabeto grego), respectivamente. Elas são designadas com sucessivas letras maiúsculas inglesas e um número, com um “0” como o primeiro dígito. Por exemplo, “Beta” é designada por B 03. O próximo uncial mais antigo é o “Codex Alexandria” do quinto século e é designado como “A 02”. A única exceção é “Aleph” que usa a letra hebraica “Aleph” ao invés de uma letra inglesa.
MINÚSCULOS.
O próximo tipo de manuscrito são os minúsculos. Eles são assim chamados porque foram escritos em letras pequenas com maiúsculas usadas apenas como na escrita moderna. Eles também são chamados de cursivas (corridas) porque eles foram escritos em escrita corrida. Os minúsculos são datados do nono ao décimo quinto século. O mais antigo é do ano 835 e está localizado na Biblioteca Pública de Leningrado. São cerca de 2.800 manuscritos minúsculos conhecidos. Eles são apenas enumerados consecutivamente. Além dos textos atuais do NT grego, há três fontes adicionais para serem consultadas na critica textual.
LECIONÁRIOS.
A primeira fonte adicional são os lecionários. Eles contêm porções das Escrituras que tem sido divididas em leituras para os cultos eclesiásticos. São aproximadamente 2.200 lecionários conhecidos. Eles datam do nono ao décimo quinto século e são designados por um “l” chique com um número sobrescrito.
CITAÇÕES PATRÍSTICAS.
A segunda fonte adicional são as citações patrísticas. Elas são citações do NT em comentários e outros escritos dos Pais da Igreja (líderes da igreja durante os séculos seguintes aos Apóstolos). O uso dele na crítica textual pode ser difícil, pois não podemos sempre determinar se o escritor estava copiando a citação bíblica diretamente do texto, citando da sua memória ou simplesmente fazendo uma alusão a um verso da Escritura. Existem dezenas de Pais da Igreja que podemos recorrer. Alguns dos mais importantes são: Clemente de Roma (c. 95), Inácio (d. 117), Tertuliano (c. 160–220), Orígenes (185–254), Clemente de Alexandria (antes de 215), Hipólito (d. 235), Irineu (c. 250), Ambrósio (c. 340–397), Crisóstomo (344–407) e Agostinho (354–430). Várias abreviações são usadas para designar essas e outras citações patrísticas.
VERSÕES ANTIGAS.
A última fonte adicional são as versões antigas. Essas são traduções do NT grego para outras línguas. A mais importante dessas sãos as versões antigas em latim. Provavelmente a primeira tradução do NT para o latim ocorreu por volta de 200 d.C. O manuscrito mais antigo dessa versão é do século quarto. 50 manuscritos foram catalogados. Eles são designados por “it” (de Ítala) com uma letra sobrescrita. O próximo em importância é a Vulgata. Essa tradução para o latim foi o trabalho, pelo menos em parte, de Jerônimo (c.345–420). Se tornou a versão oficial da Igreja Católica Romana. Isso representa as mais de 8.000 cópias existentes. O mais antigo é do século quarto. Eles são designados por “Vg” e uma letra sobrescrita. Outras línguas para o qual o NT for traduzido nos primeiros séculos são: Sírio, Copta, Armênio, Georgiano, Etíope, Gótico, Árabe entre muitos outros. Várias abreviações são usadas para cada língua (informações acima extraídas de Aland, Texto, 56, 57, 75–217, Barker, 53–57 e gráficos do texto UBS).
FAMÍLIAS TEXTUAIS:
Portanto, existem milhares de manuscritos para determinar o texto do NT. Destes, mais de 85% do texto encontrado em TODOS os manuscritos é idêntico. Então, novamente, o texto do NT é muito bem atestado. No entanto, ainda há 15% do texto no qual há variantes entre os manuscritos. Quando essas variantes são comparadas, torna aparente que os manuscritos se dividem em, finalmente, duas “famílias”.
As diferenças mais importantes podem ser observadas entre as famílias textuais, embora haja pequenas variantes entre os manuscritos dentro de um tipo específico de texto. O primeiro dessas famílias textuais é o “Bizantino”. É assim chamado, pois esse é o tipo de texto que a igreja bizantina (oriental, de fala grega) usou ao longo de sua existência. Textos do tipo bizantino incluem a vasta maioria dos manuscritos. Muitos dos unciais, minúsculos e versões mencionados acima, refletem esse tipo de texto. Esses manuscritos são geralmente “tardios” (i.e. datados depois do século quarto). Mas alguns são mais antigos e poucos papiros são também classificados aqui. A segunda maior família textual é o “Alexandrino” (nomeado depois da cidade egípcia). Apenas um punhado de manuscritos refletem esse tipo, mas muitos desses são “primitivos” (i.e. datado do quarto século ou antes). Os Codex Sinaiticus e Vaticanus refletem esse tipo, junto com alguns papiros. Dois tipos de texto menos importantes são o “Ocidental” e o “Cesariano”. Há divergências entre os estudiosos sobre se estas constituem mesmo famílias separadas.
TEXTOS GREGOS E VERSÕES DA BÍBLIA:
Há um debate acalorado sobre qual das duas principais famílias textuais acima, reflete melhor os autógrafos (os textos originais realmente escrito pelos apóstolos). E esse desacordo levou para o desenvolvimento de dois textos gregos diferentes para os quais traduzir o NT. O primeiro é o “Texto Majoritário” (TM). É assim chamado, pois é desenvolvido com o pressuposto de que, sob a providência de Deus, a melhor leitura foi preservada na MAIORIA dos manuscritos. Com esse pressuposto, o TM inevitavelmente reflete o tipo de texto bizantino.
O “Textus Receptus” (TR) é muito similar ao TM. Esse foi o texto grego do qual a monumental Versão King James de 1611 foi traduzida. Mais recentemente, a Nova Versão King James foi traduzida do TR. Duas versões modernas menos conhecidas também são baseadas em um texto do tipo TR/TM. Elas são a Tradução Literal da Bíblia e a Moderna Versão King James.
Outra versão moderna do texto grego é chamada de “Texto Crítico” (TC) pois é desenvolvida pelos CRÍTICOS textuais. Os princípios basilares desse texto foram desenvolvidos por B. F. Westcott e F. A. Hort no final de 1800. Esses princípios incluíam a ideia que o texto do NT deveria ser abordado como qualquer outro livro antigo. Sendo assim, de acordo com Westcott e Hort, os manuscritos seriam “pesados, não contados”. A principal consideração ao “pesar” um manuscrito é sua idade, quanto mais antigo, melhor. Dado esse princípio, o texto grego deles reflete principalmente o tipo de texto alexandrino. A “Versão Revisada” de 1881 foi baseada nesse tipo de texto grego.
Hoje, a 26º edição do texto grego Nestle/Aland e a terceira edição do texto da Sociedade Bíblica Unida (UBS)[1] são similares ao texto de Westcott e Hort. Os livros contêm cada um desses textos, também contêm um número extensivo de gráficos e aparatos para fazer estudos textuais. Sempre que ocorre variações no texto, o aparato na parte inferior da página indica quais manuscritos possuem qual leitura pelo uso dos símbolos mencionados. Os gráficos providenciam informação sobre as datas e os conteúdos dos vários manuscritos referidos. Geralmente, nas notas de rodapé, todos os manuscritos alexandrinos são listados. Mas apenas uma amostra dos textos bizantinos é listada, pois o maior número deles impede a listagem de todos. E finalmente, muitas versões modernas são baseadas no TC. Entre essas estão a New American Standard Bible, a New International Version e a New Revised Standard Version (as informações acima foram colhidas de muitas fontes).[2]
VARIANTES TEXTUAIS:
Como anteriormente mencionado, 15% do texto do NT difere entre os manuscritos. Porém, dessas variantes, mais frequentemente do que não, é fácil determinar qual leitura é um “erro” e qual é a correta. Sendo assim, os textos gregos publicados, mencionados acima são muito semelhantes no manuseio das variantes. O TR concorda com o TM em 99% das vezes em seu tratamento das variantes e o TC concorda com o TM 98% das vezes. Então há apenas 1–2% de diferença no geral entre esses textos gregos publicados. Além disso, a maioria das variantes entre os manuscritos e entre os textos gregos mencionados acima são insignificantes, existe algumas variações na ortografia das palavras gregas, na ordem das palavras e em detalhes semelhantes. Normalmente, elas não aparecem na tradução e não afetam o sentido do texto de forma alguma.
A seguir estão exemplos desses tipos de variantes que podem ser observadas comparando uma versão baseado no TM (ou TR) com uma baseada no TC. A leitura TM será dada primeiro e a leitura TC depois.
Primeiro, em Mateus 13.55 o nome de um dos meios irmãos de Jesus é “Joses” no TM, mas “José” no TC. A diferença é apenas uma letra no grego. No TM o nome termina com um “sigma” enquanto no TC com um “phi”. Os sons são mais ou menos semelhantes. Aliás, o nome do padrasto de Jesus era José, é fácil perceber como um escriba poderia assumir que algum dos meio-irmãos de Jesus também poderia se chamar José e interpretou mal a palavra. E pequenas diferenças na ortografia dos nomes próprios são responsáveis por uma grande parte das variantes encontradas entre os manuscritos do NT. Segundo, um caso simples de mudança na ordem da palavra pode ser observado em Lucas 17.23. No TM, os falsos profetas gritam: “Olhem aqui! ou Olhem lá!”, mas no TC o grito é: “Olhem lá! ou Olhem aqui!” Não é um abismo de diferença exatamente. E finalmente, em Atos 1.8, Jesus ou ordena que os cristãos seja testemunhas “para mim” ou “de mim”. Novamente, no grego, a diferença é uma letra. Aliás, as palavras gregas envolvidas são homônimas (moi vs. Mou).
Como os primeiros escribas costumavam ler o texto enquanto o copiavam, ou o texto era ditado em uma sala cheia de escribas, a razão para essa variação é óbvia. Aliás, esse escriba escrevia frequentemente a palavra errada quando ela soava exatamente como outra. Particularmente o problema esteve entre “o texto” vs. “as cópias”.
Ademais, muitas variantes textuais são similares aos exemplos acima. E alguém que já digitou muito ou fez várias cópias manuais pode facilmente entender como erros simples podem ser cometidos. Mas quando alguém lê o texto, o erro é geralmente percebido. É o mesmo com as variantes gregas. Em muitos casos, qual variante é correta é óbvio, e ambos o TM e o TC têm a mesma leitura.
Além disso, “Felizmente, se o grande número de manuscritos aumenta o número de erros, aumenta proporcionalmente o meio de corrigir esses erros, para que a margem de dúvidas deixada no processo ou a recuperação do texto original exato não seja tão grande quanto se pode temer; é na verdade incrivelmente pequeno.” (Bruce, 19).
Assim, quando há diferenças entre manuscritos, muito frequentemente ou não, a leitura correta é facilmente determinada. E mesmo quando não, a variante é geralmente insignificante. Contudo, há algumas variantes importantes. E para esses, a evidencia é frequentemente dividida sobre qual é a leitura original. E, frequentemente, o TM segue uma leitura enquanto o TC, outra. E é por causa disso que há debate acalorados entre os estudiosos, sobre se o TM ou TC refletem melhor o original. Mas, em casos como esses, a maioria das versões modernas fará nota de rodapé da variante. As notas de rodapé na NKJV são úteis nesse sentido. Nessa versão, quaisquer variantes significativas entre o TR em que se baseia, o TM e o TC são indicadas especificamente em suas notas de rodapé textuais.
CONCLUSÃO:
As razões para as diferenças entre o Texto Majoritário e o Texto Crítico são muito mais complicadas do que os pontos mencionados acima. E tentar decidir se o TM ou o TC reflete melhor os autógrafos, é ainda mais complexo, embora muito interessante. Aqui, apenas será enfatizado que:
Leitores da Bíblia podem estar seguros que as diferenças mais importantes nos Novos Testamentos Ingleses [ou qualquer outra língua] de hoje são devidas, não a manuscritos divergentes, mas com a maneira na qual o tradutor vê o desafio da tradução. Quão literalmente o texto deve ser apresentado? Como o tradutor vê a questão da inspiração bíblica?
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